Vi num blogue de uma mãe de um filho deficiente, do qual não revelo o link por não querer causar quaisquer constrangimentos, a seguinte frase:
“o meu filho é a melhor coisa que me aconteceu e, se me dessem a escolher, não quereria ter outro”, referindo-se ao seu filho portador do síndroma de asperger, um dos muitos géneros de autismo.
Já eu, mais inconformada, não vejo as coisas dessa maneira. No meu ponto de vista, a chegada de uma criança deficiente é sempre uma experiência traumática, susceptível de alterar o estado emocional dos membros da família. Num primeiro momento, a família vivencia um estado de perda ou “morte”, já que a expectativa do nascimento do bebé idealizado é desmanchada pelo encontro com o bebé real. Esse momento é recheado por sentimentos de tristeza, decepção, inferioridade e revolta, levando a família a uma incompreensão da situação vivida.
A partir daí torna-se necessário, para que se possa aceitar o filho real, viver o processo de luto por aquele filho “perdido”. Dependendo de cada um, das suas próprias contingências individuais e familiares, este estado pode estender-se por muito tempo. Quando, por fim, se aceita o inevitável, a família é lançada para um mundo de incertezas e inseguranças. Depara-se com o impacto da rejeição das pessoas com relação à deficiência do seu filho e sofre com a curiosidade manifestada pelos olhares, comentários e atitudes, apercebendo-se que a sociedade não aceita e não oferece espaço ao diferente. Vivencia a culpa por ter gerado uma criança deficiente e também pelos sentimentos e atitudes de rejeição para com esse filho.
Embora a família procure apoio nos profissionais de saúde, muitas vezes não recebe as informações necessárias acerca da deficiência do seu filho, pois nem sempre é possível determinar a causa exacta. Não as recebendo, instala-se um ainda maior sentimento de descrença, frustração e impotência.
Ainda voltando à citação da mãe que refiro no inicio do texto, se há aspectos positivos na situação, eu não os consigo ver. Não trocaria o meu filho, porque é meu, faz parte de mim e gosto dele. Mas, contrariamente à outra mãe, não foi a melhor coisa que me aconteceu e, se me dessem a escolher, querê-lo-ia, sim a ele, mas, pelo bem de todos, de uma outra maneira.
12 comentários:
esperemos que a opinião dela não mude com o tempo!
existe sempre o desgaste psicológico que pode afectar bastante!
Esperemos. Será muito mais feliz se esse estado de espírito de mantiver.
Sabes o que é de longe mais difícil de superar no meio de tudo isto, é a quase inexistência de sonhos relacionados com a criança. Todo o pai deseja, muitas vezes de forma egoista, que o filho seja isto, seja aquilo. Deixamos essas confabulações para desejarmos apenas k seja feliz. Mas a felicidade é para eles, tb, difícil de alcançar.
Como mãe, com avó e como pessoa, tenho a certeza que se tivesse um familiar com algum problema de doença marcante, sei que o aceitaria e o amaria com todas as minhas energias, do mesmo modo que amo os que existem.
Em relação à declaração citada, dita por uma mãe, devo dizer que a ouvi muitas vezes da boca de muitas mães e sempre senti que elas o faziam para se auto convencerem, eram palavras saídas da boca, socialmente correctas.
O teu depoimento querida Calendas é muito "lúcido"! És alguém que consegue ver bem a realidade, sem tentar camuflar o que todos devem sentir...O amor e a realidade podem andar "abraçados".
Eu julgo que ela quereria dizer isso que tu acabaste por dizer que não o trocaria por ser seu filho, não por ter um síndroma muitas vezes as mães de crianças com deficiência dizem determinadas frases muitas vezes para se convencerem de que tudo é bom e que não importa que o seu filho tenha deficiência , mas no seu intimo devem sentir que se fosse diferente seria melhor.porque viver neste pais sem apoios com uma criança diferente é viver no limite.kis
Para as duas últimas comentadoras:
É exactamente isso que penso e que quis deixar expresso no texto que publiquei. Obviamente o amor e a realidade andam abraçados.
Vou no sentido do comentário da Maria Teresa. No entanto estou "por fora", nem pai sou. Tenho no entanto na família próxima, um caso semelhante e todos convivemos bem com o facto.
Tenho falado com alguns familiares sobre isso e concluimos que os pais podem não se sentirem felizes, mas que o filho pode ser feliz.
As palavras, no entanto, valem o que valem.
Carapau: ninguém é completamente feliz ou nem sempre feliz. O meu filho é quase feliz, porque não se apercebe das suas próprias limitações. Agora imagina uma pessoa cuja deficiência não seja mental. Parece-te assim tão fácil ser feliz? Lembra-te de todas as dificuldades e limitações com que tem de se deparar ao longo da vida e pensa se a nossa sociedade lhe faz justiça.
E atenção, eu não sou infeliz, sou tão feliz como os demais, uns dias mais outros menos, como é normal. Se me conhecesses sabias que convivo bem com a situação, embora possa parecer o contrário devido aos textos que às vezes por aqui deixo. Mas, como diz o Vício, o desgaste psicológico é às vezes lixado.
Difícil e delicado este assunto.
Não sou mãe, não sei o que dizer, com todo o respeito.
Beijinho
Beijinho tb para ti. Só quero que penses numa questão que diz respeito à tua profissão. Achas o acompanhamento dado pela Escola aos miúdos NEE completamente adequado e eficaz? Responde-me só a isso e estamos conversadas.
Claro que não!
(respondi à questão que colocaste à cantinho, já sabias a resposta...)
Olá, Calenda.
Ausente a corrigir provas, só agoa vim aqui e dei com esta pergunta.
Resposta:
NÃO, NUNCA.
Beijinho
Olá.
Respondo aqui, ao seu comentário no meu blog.
O D, não tem pai. Sofreu muito com a sua morte. Jovem, ainda.
D não gosta de falar no assunto.
Hoje, soube de algo...
Motivo do meu post.
Nesta família tem sido de mais.
Espero ser velhinha e vê-los todos por cá.
Beijinho
P.S.: Envio este comentário como anónima.
Enviar um comentário