quarta-feira, 21 de abril de 2010

Há gostos para tudo


Corria o ano de 1982, quando, devido ao trabalho dos meus pais, tivemos de mudar do Carregado para a Curia.

Quis o destino que eles alugassem casa aos que, posteriormente, viriam a ser os meus sogros. Estão a ver a festa, no andar de cima morava o que, mais tarde, iria ser o meu mais que tudo. No andar de baixo, morava a que, mais tarde, iria ser o mais que tudo dele. Mas este texto não reza sobre essa história, que deixarei para outra altura.

Os meus pais são originários do sul de Portugal, um do Algarve e outro do Alentejo, como tal têm alguns costumes diferentes dos da gente daqui, os bairradinos.

Nesta zona os caracóis abundavam porque apenas serviam de bucólico enfeite para as couves e demais seres amantes da fotossíntese. Um dia, depois de uma copiosa chuvada outonal, os ditos resolveram fazer uma maratona pela estrada fora. Eu e os meus pais, fanáticos e ambiciosos recolectores dessa espécie, metemos mãos à obra e apanhamos umas valentes sacadas. Depois da devida depuração, a minha mãe preparou o pitéu, montamos a mesa na pátio e fizemos um festim que até “mandava ventarolas”. Nesse entretanto, chegaram umas visitas para o andar de cima que, de soslaio, nos olharam muito espantadas. No dia seguinte corria pela aldeia inteira que os novos habitantes deviam ser muito pobrezinhos porque até caracóis comiam.

De uma outra vez, a propósito de um arranjo num armário da cozinha, mandou-se chamar um carpinteiro. Calhou chegar o profissional quando a minha mãe, diligentemente, preparava umas migas à moda do Alentejo. Pergunta ele:
- Vizinha, está a fazer comidinha para os cães?
- Estou, vizinho -responde ela, sorrindo.
-Os seus cães são uns sortudos – acrescenta ele – é que essa comidinha cheira mesmo bem!

11 comentários:

Calendas disse...

Afinal parece que corria o ano de 1981, diz-me o senhor meu marido, que nunca dá um ar da sua graça aqui nos comentários e que é o único que tem memória de calculadora aqui em casa.

Red Maria disse...

Os de cima dispenso, migas comi ao jantar, sou uma pobre duma desgraçada!

Vício disse...

é estranho! eu também vivo na zona centro e os caracóis na minha terra correm sempre perigo de vida!
esses teus vizinhos de cima comiam caviar?

podias dizer-lhes que não eram caracóis mas sim escargot, uma receita tipicamente francesa!

maria teresa disse...

Eu como os dois petiscos... e gosto imenso de ambos, o primeiro com uma loirinha e o segundo com um bom tintol.
Nessa época era: "cada terra com seu uso, cada roca com seu fuso"
Não sei se está bem aplicado, mas foi a primeira coisa que me veio à mona.

Carapau disse...

Provei uma vez, era miúdo, uns caracóis dos grandes (os "escargots" dos franceses) preparados por um alentejano. Não fiquei freguês, prefiro os do mar.
Depois, se tivesse de os apanhar, sei lá se eles não correriam mais do que eu! Então, para não fazer má figura, não entro nessas corridas.

Calendas disse...

Realmente caracol não parece comida adequada a carapau.

Dos grandes tb não gosto.

maria teresa disse...

Será que vocês estão a falar nas caracoletas?
Essas têm imensa "carninha"! Nhac, nhac...um pitéu grelhadas...

Calendas disse...

Sim, Teresa, das caracoletas. Essas não gosto de maneira nenhuma e menos ainda daqueles que se grelham.
Os caracois do mar tb não são o meu petisco favorito. Buzios, tb não.

AvoGi disse...

Pois inda há dias pisei este terreno e não deixei comentos por que não sabia onde os deixar. já percebi mulher de enigmas. é ao lado no numero já percebi. estava para aqui admirada pela simples razão de não haver caixa pa coemntos, aleluia já posso deixar as minhas ideias. E nao tens seguidores? never mind vou seguir-t de perto agora que posso escrever o que me vai na cabeça em relação aos postes. :):):)kis

AvoGi disse...

By the way caracóis só se for nos caules da plantas que na minha santa boca nao entra nenhum, a não ser queu tenha a boca aberta e tenha perdido as minha faculdades mentais ou esteja dormente da boca anestesiada talvez, aí eles podem penetrar (salvo seja)

Calendas disse...

Nunca digas nunca, lol. Quem sabe se um dia um caracol lá penetra (por engano, claro está).

Ainda bem que achaste a caixinha dos comentários. Agora comenta, mulher, tu comenta com força.