domingo, 18 de abril de 2010

Composições

Este texto vem a propósito de um post da Maria Teresa, a quem prometi uma explicação que não cabia num comentário.
Na Escola Primária não me lembro de fazer composições acerca das estações do ano, férias e demais torturas. Não sei se não as fiz, ou se não me quero lembrar delas.
Lembro-me de fazer composições sobre “Se eu fosse uma nuvem…”; “Se eu fosse um comboio…”; “Se eu fosse uma gota de água”.

No 2º ciclo, lembro-me essencialmente de desenvolver e terminar histórias. O professor lia parte de um determinado texto e a nós competia-nos a tarefa de o desenvolver. Lembro-me de nos rirmos muito acerca das aventuras mirabolantes que nos saiam da pena e que depois eram lidas para a turma.

Do 3º ciclo, não me lembro de grande coisa. Lembro-me de só me apetecer escrever sobre ficção científica e de quando não tinha tempo para acabar o solicitado, escrever “continua no próximo episódio” como se de uma série se tratasse.

Fiz duas vezes o décimo ano, uma delas com 15 anos e outra com 27. Nesse nível de escolaridade, por caricato que pareça, tive o pior e o melhor professor de Português. A pior, a do meu primeiro 10º ano, chamava-se Branca, talvez pela esperança ou fulgor que os pais viam nela, porque para mim era muito Negra. Lembro-me que em Janeiro nos pediu uma composição subordinada ao tema “A minha consoada”. Esmerei-me, sei que me esmerei e fiz uma composição onde da Consoada apenas aproveitei a data. Passados todos estes anos ainda me recordo que a história estava relacionada com alguém que não pôde ir passar a consoada com quem desejava porque foi surpreendido no caminho por espíritos, lobisomens e demais “sobrenaturalidades”.

Quando recebi a composição, vi, escarrapachadinho, assinadinho e tudo, um valente de um oito. Oito, porquê?, interroguei-me nada habituada a estas lides. Perguntei-lhe a razão e a professora disse-me que não tinha pedido um tema livre e que eu não tinha respeitado o tema. Respondi-lhe que, do meu ponto de vista, tinha cumprido o tema, só não me tinha era apetecido falar em filhoses e bacalhau. E que como não tinha incorrecções achava muito injusta a classificação obtida. O mais que consegui foi que me desse 10, a mim, eu, je, a precursora da Saga Vampiresca agora tão em voga.

De qualquer maneira esse foi um ano para esquecer, qual Midas, a senhora conseguia tornar tudo em que tocava intragável. Espero que já algum dia lhe tenham dito, ou que já tenha aprendido por si própria, que se os alunos GOSTAREM, APRENDEM. Está no ofício do professor o despoletar desse gosto.

5 comentários:

Livro Branco disse...

Felizmente, existiu o 2º episódio/10ºano. Marcado por um professor que, pela paixão que dedicava a cada aula e pelo arrebatamento com que declamava poesia (fugindo ao programa e não só), cativava os alunos e deixava arrepiada a espinha mais controlada! :))) Pelo menos, assim aconteceu comigo. Se apr(e)endi o que deveria, não sei... mas sei que ADOREI! ;)

maria teresa disse...

Houve,há e haverá professores que deixaram e deixarão uma "marca" nos seus alunos, são aqueles que para além dos seus conhecimentos têm AMOR à profissão, são professores porque gostam...
Mesmo no tempo do ensino de "cátedra", em que este se centrava no professor, a metodologia que se aplicava quando eu era aluna, acabei a minha licenciatura antes de tu nasceres, existia quem abdicasse desse modo de leccionar e optasse por estar mais "próximo" dos discentes, com esses aprendíamos muito mais, as nossas reais capacidades eram despertadas, estimuladas, "obrigavam-nos" a pensar, a deduzir, ... e nós gostávamos.
Encontrei este "tipo" de professores mais no ramo científico. No campo das línguas isso não aconteceu... fazia brilharetes a francês porque o tinha começado a aprender em casa, fiz outro grande brilharete numa aula de Português porque já tinha lido "Eurico o Presbítero" anteriormente...
Sei, embora estes factos estejam muito longe no tempo,e as percepções me traiam, que se não fosse o que aprendi na escola primária e em casa, teria repetido vários anos...

Estamos a ficar demasiado sérias, o que já passou, passou, ...

BEM-HAJAM todos os nossos colegas de profissão que souberam, sabem e saberão encontrar o "caminho" certo para "chegarem" aos alunos e os conseguirem "acordar" para gostarem de "estar" na Escola.
Bj

Vício disse...

tu não incluíste a professora de português nas sobrenaturalidades, pois não?

Carapau disse...

Em boa verdade não me lembro de nada especial com as minhas professoras de português (parece-me que tive duas e um prof). Não se passou nada que me marcasse a não ser uma vez que chorei-teria uns 10 anos- e a professora me acarinhou e me encostou a cabeça no seu seio para eu chorar mais à vontade. Ficamos "amigos para sempre".
Já das redacções feitas na escola primária me lembro, pois acabavam sempre da mesma maneira. Um exemplo:
Os lobisomens

Os lobishomens são blá, blá blá....
......
Eu gosto muito de lobisomens.
Benditos sejam os lobisomens.

(Naquele tempo levavam um "h" pelo meio, óbvio).
Mas apesar do que ficou escrito, prefiro, no Natal, o bacalhau e as filhoses...

Joaquim Jorge Carvalho disse...

Querida Amiga,

eu lembro-me de ter sido aluno (em Língua Portuguesa) de uma Branca. Foi no 1.º ciclo e gostei muito dela. Espero que não seja a mesma da história.
Por acaso, sobre o que dizes no teu (tão bem escrito) texto, eu gosto que os meus alunos me surpreendam com viagens ao avesso dos temas. O tema é um ponto de partida: aeroporto do voo a haver e, desejavelmente, aeroporto para o voo havido.
Gostei do teu blogue e hei-de voltar mais vezes.
Beijinho.

JJC