sexta-feira, 9 de abril de 2010

Carta a nós

Querida Teresa

Dizes-me tu, na tua última carta, que vais, por auto-gestão, tentando adentrar-te na escrita ficcionada. Desculpas-te, acrescentas que a tua formação está longe de ser de Letras e referes que tiveste péssimos professores de português. Dizes-me que já pensaste em inscrever-te num curso de escrita criativa mas, nesta altura da tua vida, a ideia de horários fixos agonia-te.

Eu, nem disso posso fazer desculpa. Sou de Letras e tive meia dúzia de professores excelentes, quatro dos quais de português ou de disciplinas relacionadas.

Comecei bem, do segundo ciclo lembro-me de um professor fabuloso chamado Mário Calçada. Gostei tanto dele que ainda hoje, passados tantos anos, lhe recordo o nome, a cara e algumas das aulas. Procurei-o, inclusive, no “Cara de Livro” mas, infelizmente, não o encontrei.

Mais tarde, já no 10º ano, tive outro professor de quem guardo excelentes recordações, Joaquim Jorge Carvalho.

Na universidade tive uma professora também de se tirar o chapéu, Ana Paula Arnault, que nos orientava nos meandros da Literatura Portuguesa I (contemporânea). Tive também o prazer de conhecer Camões, Gil Vicente e outros amigalhaços, pela mão de outro professor de excelência, Cardoso Bernardes.

O que tornava estes professores diferentes dos outros, não era a sua superior formação académica, era a forma como nos conseguiam transportar para dentro da literatura. Era o facto de trazerem a alma consigo, diferença colossal entre fazer as coisas por gosto ou por obrigação.

Nenhum destes professores de que falo me ensinou as técnicas da escrita criativa. O que estes professores conseguiram foi transmitir-me o gosto que sentiam pela literatura. Obrigada Caríssimos Senhores Professores.

Maria Teresa, não tendo tu o prazer e a sorte de teres tido professores destes, o teu auto didactismo é genial. Tiro-te também o chapéu e crê que teria gostado de ter sido tua aluna. Seguramente.

Até breve e espero notícias tuas.
Beijinhos (embrulhados ou não).

8 comentários:

Vício disse...

entendo-te perfeitamente!
eu também ainda me recordo do nome do meu professor de matemática do 9º ano e já passaram 22 anos...

mas também sou da opinião que se o aluno não se interessar, não vale a pena haver professores como os que falas!

calendas disse...

Olha, o difícil na profissão está no conseguir fazer que o aluno se interesse. Por norma, a escola não é uma coisa divertida, nem aliciante. Português e Matemática não são as disciplinas mais populares, devido ao grau de dificuldade e trabalho. O importante é conseguir cativar o aluno e isto nem sempre se consegue. Os bons professores são, no meu ponto de vista, os que conseguem fazê-lo e olha que não é tarefa fácil e nem está ao dispor de todos, por mais vontade que tenham em fazê-lo.

Anónimo disse...

O professor de que mais me recordo, e que ponho sempre em 1º lugar na lista, era colega (um bocado mais velho) da "tua" Teresa. Suponho que vem daí uma certa "simpatia" pelos números, ainda que isso já se tenha manifestado na Primária (mas esse professor fica num lugar à parte).
Direi que a função do professor é transmitir uns conhecimentos básicos (programas obrigam) e a despertar nuns tantos alunos o interesse por qualquer coisa. E digo "nuns tantos" porque não é possível ser em todos. Disso sabes tu muitissimo melhor do que eu.
(Bonita a tua carta aberta à MT)

Carapau disse...

O anónimo sou "je"

maria teresa disse...

Querida Calendas fiquei literalmente siderada com a tua carta a nós. Fiquei sem fala, também não tinha ao pé de mim ninguém com quem falar… estou sem pio, sem saber o que dizer mas vou fazer como a “outra”, mudando um bocadinho a frase, vou escrever como costumo fazer, vou escrever até onde o meu "coração me levar"…
Adoro ler, conheço a maioria dos clássicos, uns porque me foram apresentados, outros por curiosidade…leio muito e penso ser bastante atenta àquilo que leio. Nasci numa casa onde havia livros, bastantes livros e tenho uma vasta colecção de “várias qualidades”…
Sou uma espectadora atenta da VIDA e para além de procurar vivê-la com um sorriso nos lábios e nos olhos, gosto de partilhar com os outros as minhas emoções, os meus afectos, as minhas vivências, … Isto leva-me a gostar de escrever.
Tenho consciência que fui uma boa professora, uma boa colega, … Sou suficientemente curiosa e lutadora para que, quando não sei o que quer que seja, lute para o descobrir, perguntando, pesquisando, … leve o tempo que levar.
Gosto de poesia mas tenho, muitas vezes, dificuldade em descodificá-la, procuro apoio junto de uma amiga que me ajuda na sua interpretação, sou suficientemente humilde para mostrar a minha ignorância e as minhas fragilidades…
Sinto-me honrada por alguém, neste caso tu, sem me conheceres, teres afirmado que gostavas de ter sido minha aluna. Dir-te-ei que atendendo à idade que tenho, apenas por isso, pois podia ser tua mãe, gostaria de te ter tido como aluna… tirando as idades, dir-te-ia que gostaria também que tivesses sido minha professora.
Já escrevi muito quando as palavras mais simples de dizer talvez fossem: MUITO OBRIGADA!
BEM-HAJAS!

Calendas disse...

Bom parece uma troca de galhardetes, eu queria ser tua, tu querias ser minha, lol.

Quanto a seres minha mãe, lol, serias uma maezita muito precoce, 15 anitos apenas nos separariam. Mas dava, ora se dava. A diferença entre a minha filha e eu é pouco maior que essa.

Vá, beijinhos e nada tens que agradecer.

maria teresa disse...

Adorei os galhardetes mas vou chamar-te a atenção.
Estás nos "entas"há pouco tempo?
Então "opera" bem (é proibido tirar o fígado) a nossa diferença de idades é de 26 (apenas...) aninhos.

Calendas disse...

Lol, ontem estava já na cama e fez-se luz na minha matemática. Pensei que raio de contas tinha feito eu, lol.