À hora exacta das couves e das batatas molhadas, chega a casa. Pendura as chaves no chaveiro, o casaco no cabide, passa brevemente pela casa de banho e dirige-se à cozinha.
Sem um carinho, atira: - Fernanda, o comer está pronto?
Sem um carinho, atira: - Fernanda, o comer está pronto?
Fernanda responde entre dentes que sim e chama os filhos para a mesa.
A garrafa do vinho? - pergunta a maus modos.
Mastiga-se o silêncio, as batatas e o medo.
A garrafa do vinho, já disse! – remata, peremptoriamente.
Ó homem, deixa lá isso. Olha o que disse o doutor.
Quero lá saber do doutor ou meio doutor. Dá-me o vinho!
Fernanda levanta-se e traz-lhe o vinho sabendo, inequivocamente, o que se avizinha.
Ai homem que és a nossa desgraça, lamenta-se angustiada, olhando os filhos de soslaio.
Nota: A violência doméstica é um problema universal que atinge milhares de pessoas, na maioria das vezes de forma silenciosa e dissimulada. Trata-se de um problema que acomete ambos os sexos e não costuma obedecer a nenhum nível social, económico, religioso ou cultural específico, como poderiam pensar alguns.
6 comentários:
Impressionantemente realista...
Abracinho
Ainda nem tinha acabado de publicar e já tinha comentários! Ó Teresinha, que célere!!!
Uma é célere a Outra diz as coisas a dobrar.
Não serão dois casos de violência?
:-)
Bolas! Estamos cá com uma "pica"!!!
Então?
Essa garrafa aparece ou não?
Mau, mau ...
Calendas, bom post e um exemplo do que se viveu aqui por estas bandas.
Não é fácil contar.
E tenho um amigo nos 50as que está a ficar mais dependente da bebida. Entristece-me.
Beijo
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