Assim que chegava à velha aldeia, à primeira oportunidade corria para casa da sua vetusta tia. A razão primordial não era a saudade que sentia da tia, mas a saudade que tinha do objectivo mais bonito que conhecera em toda a vida.
Mal entrava em casa, cumprimentava a tia de raspão e dirigia-se à sala dos fundos. Antes de qualquer acção mais movimentada, primeiro olhava-a, como que confirmando que realmente existia. Depois, a medo, não fosse a magia quebrar-se, rodava a corda e, embevecida, deixava-se envolver pelo seu melancólico som e a sua vista perdia-se na dança da pequena bailarina que saía da caixa. Durante dois minutos e alguns segundos era feliz.
Quando a corda acabava, rodava novamente o manípulo e, mais uma vez se tornavam cúmplices. Sim, acreditava que esse era também o momento mais feliz da bailarina, os breves momentos em que a deixavam bailar, depois de tantas horas de espera.
Nunca conseguira satisfazer o desejo de vê-la bailar até ao limite do cansaço. Quase sempre a tia a interrompia e reclamava a posse da ilusão.
Mal entrava em casa, cumprimentava a tia de raspão e dirigia-se à sala dos fundos. Antes de qualquer acção mais movimentada, primeiro olhava-a, como que confirmando que realmente existia. Depois, a medo, não fosse a magia quebrar-se, rodava a corda e, embevecida, deixava-se envolver pelo seu melancólico som e a sua vista perdia-se na dança da pequena bailarina que saía da caixa. Durante dois minutos e alguns segundos era feliz.
Quando a corda acabava, rodava novamente o manípulo e, mais uma vez se tornavam cúmplices. Sim, acreditava que esse era também o momento mais feliz da bailarina, os breves momentos em que a deixavam bailar, depois de tantas horas de espera.
Nunca conseguira satisfazer o desejo de vê-la bailar até ao limite do cansaço. Quase sempre a tia a interrompia e reclamava a posse da ilusão.
- Menina, isso não é para estragar. Veio de França. É muito caro e não é brinquedo de crianças.
O tempo não se detém e muito mais tarde, a filha mais velha, sabedora dos anseios maternos, calcorreou meia cidade com uma pesada caixa de música para lhe oferecer no Natal.
A mãe desembrulhou a prenda e de imediato os olhos encheram-se de lágrimas. A filha sorriu convicta da felicidade da mãe. À mãe, as lágrimas continuavam a lavar-lhe o rosto, mas, contrariamente ao esperado, de frustração e infelicidade egoístas.
À prenda, uma caixa de jóias com música, faltava o essencial da magia, a pequena e doce bailarina, vestida de tule.
8 comentários:
:) Como eu entendo o fascínio por caixinhas de música, mas só por aquelas com bailarinas...:)As lágrimas são muitas vezes egoístas, tal como os sonhos... lindo gesto da filha, mas será que conhecia bem a mãe e os seus anseios (será que esta alguma vez lhos terá confidenciado na totalidade?) Será que a filha terá interpretado bem as lágrimas da mãe? Que pena... Algures, uma bailarina vestida de tule, adormecida numa caixinha de música, espera ansiosa que lhe dêm corda, para que possa encantar com a sua dança...uma menina...uma mulher/menina... :) beijinhos
Lindo!
A magia das crianças, a magia da música, a magia da dança.
Sem mais comentários.
Beijinho
Eu tive a sorte da minha mãe me ter adivinhado os anseios: ofereceu-me há muito uma caixinha de música com a elegante bailarinha, à qual só falta o tule... ;)
Também houve uma caixa de música na minha infância. Só que não tinha bailarinas e em boa verdade já nem era caixa e já não dava música. Eu explico.
Em casa do meu avô havia uns restos duma caixa de música: só a parte inferior da caixa, o cilindro com os "piquinhos" e algumas poucas palhetas. Claro que já não tinha manivela. Fazia girar o cilindo actuando directamente sobre ele - sentindo os piquinhos a picaram-me - e aquilo fazia uns barulhinhos. Mas eu gostava.
Um dia contei esta história e alguém me ofereceu uma pequena caixa de música do tamanho duma caixa de fósforos. Está ali guardada. Dá-se à manivelinha e sai "la vie en rose".
"Quand il me prend dans ses bras
Il me parle tous bas,
Je vois lá vie en rose.
Il me dis des mots d'amour
Des mots de tous les jours,
Et ça me fait quelque chose."
(...)
Isto cantava a Edith Piaf, a caixinha só dá a música.
Óbviamente.
"Heureux, heureux a en mourir"
era como ela se sentia nesses momentos. Bendita caixinha!
Ora vamos lá por partes:
Evita mas não Perón - Tantos "serás" e será que não? Provavelmente.
Cantinho: obrigada.
Livro: Sorte a tua!
Carapau: eu também contei aqui esta história... será que alguém me vai oferecer uma caixinha? Provavelmente, ou talvez não!
Eu ofereci uma caixinha de música à minha neta com bailarina mas não vestida de tule. Será que ainda funciona?
Onde é que vocês compram essas coisas? Eu não encontro com bailarina, buá!
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